Euribor: tudo sobre a taxa que define o crédito à habitação
A Euribor é uma das taxas de referência mais importantes para a economia europeia, afetando diretamente milhões de consumidores e empresas, especialmente no que se refere a contratos de crédito à habitação. Esta taxa, que resulta de operações interbancárias, reflete a confiança e a liquidez dos bancos na Zona Euro. Embora o seu impacto seja mais notado pelos consumidores em créditos à habitação, o alcance da Euribor vai muito além. Ela é uma ferramenta fundamental na política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e desempenha um papel crucial na estabilidade financeira da União Europeia.
Ao longo dos anos, a Euribor tornou-se um indicador vital para avaliar o custo dos empréstimos e medir o estado da economia. Este artigo explora detalhadamente o que é a Euribor, como é calculada, quem a determina, os diferentes prazos em que existe, e como influencia o mercado financeiro.
O que é a Euribor e como funciona?
A Euribor (Euro Interbank Offered Rate) é uma taxa média à qual os bancos da Zona Euro emprestam dinheiro uns aos outros no mercado interbancário. Este tipo de operações ocorre normalmente a curto prazo, com prazos que variam entre 1 dia (Eonia) e 12 meses. A Euribor é estabelecida diariamente com base nas taxas oferecidas por um painel de 19 bancos de referência na Zona Euro. Estes bancos comunicam as suas taxas de juro, e a média dessas taxas, excluindo os valores mais altos e mais baixos, define a Euribor diária para os diversos prazos.
As taxas Euribor são divulgadas todos os dias úteis às 11h00 da manhã, hora de Bruxelas, e são fixadas pela Federação Bancária Europeia (EBF). A taxa resulta da média aritmética das taxas oferecidas pelos bancos de referência, após o cálculo ter eliminado 15% dos valores mais altos e mais baixos para garantir que a Euribor reflete com precisão o mercado e não é distorcida por extremos.
Os diferentes prazos da Euribor
A Euribor é calculada para diferentes prazos de maturidade, que refletem os períodos de tempo pelos quais os bancos estão dispostos a emprestar dinheiro uns aos outros. Estes prazos são normalmente de 1 semana, 1 mês, 3 meses, 6 meses e 12 meses. Cada um destes prazos é utilizado como referência para diferentes tipos de contratos financeiros, sendo o crédito à habitação um dos mais comuns.
Euribor a 1 mês: Geralmente utilizada para contratos de financiamento a curto prazo e menos comum em contratos de crédito à habitação.
Euribor a 3 meses: Frequentemente usada em créditos à habitação com uma maior frequência de revisão, tornando-a mais sensível a variações no mercado.
Euribor a 6 meses: O prazo mais comum em Portugal para os créditos à habitação, pois oferece um equilíbrio entre estabilidade e sensibilidade às variações do mercado.
Euribor a 12 meses: Utilizada por quem deseja uma maior previsibilidade nos encargos mensais, dado que as revisões são feitas apenas uma vez por ano.
A escolha do prazo da Euribor num contrato de crédito depende das condições que o consumidor valoriza. Quanto maior for o prazo da Euribor, menor será a frequência de revisão da prestação mensal. Por exemplo, se um crédito à habitação estiver indexado à Euribor a 12 meses, a prestação será revista apenas uma vez por ano, o que oferece mais previsibilidade, mas também maior exposição às variações a longo prazo.
Quem define a Euribor e como é calculada?
A Euribor é determinada pela Federação Bancária Europeia (EBF), com a participação de 19 bancos de referência da Zona Euro. Estes bancos são selecionados com base na sua relevância e volume de operações no mercado interbancário europeu. Todos os dias úteis, cada banco do painel comunica a sua taxa de juro à qual está disposto a emprestar a outros bancos. Esta comunicação é confidencial e sujeita a regulação rigorosa para evitar manipulações.
O cálculo da Euribor é realizado por uma entidade independente, que recolhe as taxas oferecidas pelos bancos do painel e exclui os 15% mais altos e os 15% mais baixos, para garantir que a média resultante é representativa das condições do mercado. Esta metodologia visa garantir a transparência e fiabilidade da Euribor como uma taxa de referência neutra e confiável.
A Euribor tem um papel crucial na fixação de taxas de juro de vários produtos financeiros, não apenas no crédito à habitação, mas também em empréstimos empresariais, contratos derivados, e muitos outros. Em muitos casos, os bancos e instituições financeiras usam a Euribor como base para determinar as taxas de juro oferecidas aos seus clientes, adicionando um “spread” que reflete o risco de crédito e outros fatores relacionados com o cliente específico.
A Euribor como ferramenta de política monetária
A Euribor não é apenas uma taxa de referência passiva; é um reflexo das políticas monetárias adotadas pelo Banco Central Europeu (BCE). Através do controlo das suas taxas de juro diretoras, o BCE consegue influenciar as taxas Euribor e, assim, impactar o custo do crédito em toda a Zona Euro. Quando o BCE aumenta as suas taxas de juro de referência, a Euribor tende a subir, refletindo o aumento no custo do crédito interbancário. O inverso acontece quando o BCE baixa as suas taxas de juro.
Estas alterações são frequentemente feitas para controlar a inflação ou estimular o crescimento económico. Em períodos de crise financeira, como vimos em 2008 ou mais recentemente na pandemia de 2020, o BCE recorreu à descida das suas taxas para facilitar o acesso ao crédito e estimular a economia. Por outro lado, em períodos de alta inflação, o BCE pode optar por subir as taxas para travar o aumento dos preços, o que, por sua vez, torna o crédito mais caro.
Relevância da Euribor no crédito habitação em Portugal
Em Portugal, a maioria dos contratos de crédito à habitação estão indexados à Euribor, o que significa que as prestações mensais destes contratos variam consoante as flutuações da Euribor. Isto torna a Euribor um fator crucial na gestão financeira das famílias. Quando a Euribor sobe, as prestações mensais aumentam, e quando desce, os consumidores beneficiam de prestações mais baixas.
De acordo com o Banco de Portugal, em julho de 2023, cerca de 37,1% dos créditos à habitação estavam indexados à Euribor a seis meses, com os prazos de 12 meses e três meses a representarem 34,2% e 25,4%, respetivamente. Esta dependência da Euribor significa que as variações diárias nas suas taxas têm um impacto direto no orçamento das famílias portuguesas.
Variações atuais da Euribor e o seu impacto
Em setembro de 2014, as taxas Euribor mantêm-se em queda nos prazos a seis e 12 meses, atingindo novos mínimos históricos desde o final de 2022. A taxa a três meses, contudo, registou um ligeiro aumento para 3,481%, continuando a ser uma referência importante para os contratos de crédito à habitação. A descida das taxas a seis e a 12 meses, fixadas agora em 3,265% e 2,929%, respetivamente, reflete o abrandamento da inflação e a intenção do BCE em estimular a economia.
Para as famílias portuguesas com créditos indexados a estas taxas, a descida das prestações mensais será significativa nos próximos meses. A estabilização da Euribor a um nível mais baixo permitirá um alívio nos encargos com o crédito à habitação, contribuindo para a melhoria da gestão financeira das famílias.
Previsões futuras para a Euribor
As previsões apontam para uma descida moderada das taxas Euribor até ao final de 2024, com a expectativa de que a Euribor a três e seis meses estabilize em torno de 3%. No entanto, o cenário económico global pode influenciar estas previsões, sobretudo se houver alterações nas políticas monetárias do BCE ou da Reserva Federal dos EUA.
Para as famílias com crédito à habitação, este é um momento oportuno para rever as suas condições de crédito e avaliar possíveis renegociações. A descida da Euribor poderá também representar uma oportunidade para amortizar antecipadamente o crédito, reduzindo ainda mais os encargos futuros.